Com foco no bem-estar, arquitetura dos Anos 50 volta à cena e inspira os jovens

Com foco no bem-estar, arquitetura dos Anos 50 volta à cena e inspira os jovens

Revisitando tendências, a nova geração aposta na arquitetura emocional como novidade para 2025

A casa própria ainda é um sonho para boa parte dos jovens brasileiros — mas eles querem mais do que só as chaves. Segundo “O comportamento do consumidor de imóveis em 2040”, feito pela Deloitte em parceria com a ABRAINC, 52% dos nascidos entre 1996 e 2009 querem comprar um imóvel. A meta aparece entre as cinco mais citadas por quem busca sucesso pessoal.

Entretanto, para os jovens, não basta apenas comprar um imóvel: é preciso ter identidade. A Deloitte aponta que áreas comuns, plantas, fachadas e até a localização dos imóveis irão se moldar às necessidades da Geração Z, e não o contrário. Isso exige que arquitetos e construtoras acompanhem essas mudanças de perto e saibam oferecer opções mais flexíveis, com serviços ajustados ao perfil de cada cliente.

Nesse movimento, um conceito dos ‘Anos 50’ voltou a ganhar espaço: a arquitetura emocional – que coloca o bem-estar dos moradores no centro do projeto. Estudos da Habitabily apontam que 2023 teria sido a virada de chave no conforto emocional como peça-chave nas decisões arquitetônicas. As mudanças já são sentidas pela arquiteta e designer de interiores, Rafaela Giudice. Segundo ela, a maior dificuldade entre os mais jovens não está nos prazos e orçamentos, mas na ansiedade de querer tudo ao mesmo tempo.

“Um dos maiores desafios na prática da arquitetura, hoje, é lidar com a ansiedade crescente de uma nova geração de clientes. Muitos desejam tempo para refletir e personalizar suas escolhas – o que é legítimo e enriquece o projeto, mas, frequentemente, acabam pressionando por entregas imediatas, desconsiderando o impacto dos próprios prazos de decisão no cronograma. É essencial compreender que projetar e executar uma residência envolve um processo técnico rigoroso e colaborativo, que requer planejamento, coordenação entre equipes e respeito aos tempos de desenvolvimento para garantir qualidade e precisão”, explica.

Esse processo de escolha, inclusive, pode se tornar mais complexo do que parece. O levantamento da Deloitte revela que os jovens têm uma lista com mais de 36 itens considerados prioritários para o imóvel ideal. Entre as preferências, aparecem cozinhas americanas, closets, quintais, varanda gourmet, mobília planejada e até escolhas menores, como o uso de fechaduras digitais, isolamento acústico, drywalls, vidros inteligentes e monitoramento para pets.

Foto_@achequer
Foto @achequer

Para que tudo isso funcione sem virar um quebra-cabeça, Rafaela defende uma escuta sensível com cada cliente. Segundo a gestora do escritório BESPOKE DELA, compreender as reais necessidades dos compradores evita uma série de excessos e garante mais foco e economia no resultado final do projeto.

“Essa escuta qualificada impacta diretamente na qualidade e na assertividade da entrega final. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que o cliente também se disponha a participar ativamente do processo, se abrindo e entendendo que projetar e construir uma casa é, em grande parte, um exercício de autoconhecimento. Esse é o fascínio da arquitetura autoral e emocional. Esse tipo de expertise não entrega apenas espaços, mas revela formas de viver e de se relacionar com o ambiente”, aconselha.

Embora não se saiba ao certo quando o conceito verdadeiramente surgiu, a ‘arquitetura emocional’ é frequentemente atribuída à Luis Barragán, em 1953, pelos conselhos estruturais do Museu Experimental El Eco, no México. 67 anos depois, o termo voltou a ganhar força durante a pandemia de coronavírus – marcando uma nova década para o interior dos imóveis. “Com mais tempo dentro de casa, a percepção sobre a importância de ambientes que ofereçam conforto, funcionalidade e identidade aumentou. Esse contexto teria despertado um interesse mais autêntico nos jovens por soluções que reflitam gostos pessoais e valorizem histórias e origens, o que tem impulsionado a arquitetura emocional”, elucida.

Ainda de acordo com o levantamento da Deloitte, uma parcela de 19% dos entrevistados pretendem comprar imóveis ainda na planta, dando margem à alta personalização. Para Rafaela, a nova geração traduz o retorno da arquitetura emocional em uma característica chave: a humanização dos espaços. “A verdadeira arquitetura autoral e emocional é aquela que traduz com precisão a identidade do cliente. O arquiteto atua como mediador técnico e sensível, transformando características individuais em soluções espaciais concretas. Nesse processo, o protagonismo é do cliente. Cada projeto deve ser único, refletindo sua história, estilo de vida e personalidade de forma singular”, conclui.

Créditos capa: @danderfreitas

Publicar comentário