Design personalizado em espaços reduzidos: a revolução dos apartamentos compactos (Nacional)
Saiba como os(as) jovens em São Paulo estão moldando seu ambiente residencial para refletir identidade e funcionalidade
A LABC Warranty divulgou publicamente um recuo no metro quadrado erguido em cômodos residenciais, entre 1970 e o final da última década. A tendência, iniciada no Reino Unido, aponta o encurtamento das áreas comuns nas moradias: salas de estar (-7,8 m²), quarto principal (-1,34 m²), cozinha (-2,35 m²) e banheiro (-1,08 m²). Apesar do crescimento populacional nesse período, as casas apresentaram uma redução média de 15,51 m².
No Brasil, o fenômeno do encolhimento dos lares se intensifica especialmente nos grandes centros urbanos. De acordo com a Secovi-SP, 80% dos novos imóveis vendidos em São Paulo em novembro de 2024 pertenciam à categoria de apartamentos compactos, com até 45 m².
Em vez de ser um entrave, essa nova configuração espacial vem despertando interesse, principalmente entre os jovens adultos das gerações Y e Z – que, geralmente, moram sozinhos. Para esse público, morar bem não está mais atrelado à metragem ampla, mas à possibilidade de personalizar o espaço, explorar soluções inteligentes e expressar identidade. Foi nesse cenário que nasceu o Projeto Soft, assinado pela arquiteta Rafaela Giudice, no coração do Brooklin, em São Paulo.
Com 42 m², o apartamento é pensado para uma cliente específica: uma mulher independente, entre 25 e 30 anos, solteira e com forte repertório estético e emocional. “A cliente é serena, tranquila e possui referências que facilitam o desenvolvimento do projeto. Diante desse repertório constante e definido, a leitura das expectativas é mais objetiva, e ajuda a traduzir os desejos com mais precisão. O projeto reflete muito da personalidade dela, com um misto entre doçura e contemporaneidade”, explica Rafaela.
A base da atmosfera sensorial do Projeto Soft, segundo a gestora do escritório BESPOKE DELA, está no uso inteligente de materiais e cores, que favorecem leveza e versatilidade: madeira clara, tons terrosos com baixa saturação e iluminação cenográfica. “O rosa claro da cozinha e o bege da parede do banheiro ajudam a trazer essa sensação de leveza. Além disso, a redução dos cômodos impactou diretamente na incidência de luz nas moradias, ajudando a criar diferentes cenários, que vão de um dia de festa até um momento de conchinha no sofá”, comenta a arquiteta.
Mesmo com metragem reduzida, o projeto impressiona pela fluidez e sensação de amplitude. A marcenaria sob medida aproveita cada centímetro: armários que vão até o teto, aumento do pé-direito e integração visual entre os ambientes. Um painel amadeirado, por exemplo, cumpre dupla função de dividir a sala do quarto e, ao mesmo tempo, amplia a sensação de continuidade.
“Voltando para a sala, a figura do sofá impera como ponte entre dois ambientes que, apesar de unificados, possuem funções bem determinadas. Ele é, portanto, o coração desse projeto. Quando apresentei esse layout à cliente, ela disse que nunca havia imaginado aquela disposição. Isso acontece com frequência. Nós ainda nos condicionamos a cumprir um check-list imaginário que cada ambiente deva possuir, sem pensar na fluidez dos espaços”, alerta Rafaela.
Para a arquiteta, o Projeto Soft é um reflexo direto da autonomia das novas gerações, que mesmo habituadas a espaços menores, não abrem mão da estética, do conforto emocional e da expressão pessoal. “Todos desejamos transmitir alguma coisa, e as novas gerações são especialistas nisso, principalmente quando o assunto é morar. No caso do Projeto Soft, é sobre a independência feminina. Quem poderia imaginar que uma mulher, ainda tão jovem, teria seu próprio apartamento, contrataria uma arquiteta e moraria sozinha? Particularmente, acho muito inspirador. É a prova de que nós, mulheres, realizamos nossos próprios sonhos e estamos, pouco a pouco, ocupando o espaço que é nosso na sociedade. Haverão mais projetos, em outras cidades, mas observo uma tendência aqui que pouco tem a ver com metragem, e muito com a intenção que carrega cada espaço”, conclui.
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